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quinta-feira, 29 de março de 2007

Memórias de Ipanema

Houses Along a Road - 1881 - Paul Cézanne
Todos, em algum momento, descobrem Ipanema como um cenário mágico da Guanabara. Alguns mais cedo, outros mais tarde.

Eu sorvi o bairro por partes. Minha terra sempre foi Copacabana, mas aprendi a admirar a vizinha, feito fosse a linda irmã da namorada, respeitosamente. Nós, Copacabanas, por vezes temos a impressão de que nosso bairro nos basta. Ledo engano.

Começou quando era criança, aluno do Pernalonga.Volta e meia tinham atividades pelo bairro. Uma vez nos levaram a um terreno gramado, sem casa, onde havia aparelhos rudimentares de ginástica, uns pesos. Muitos anos mais tarde, achei até que fosse uma antiga academia do lendário Sinhozinho, um dos pioneiros da educação física no Brasil e paradigma da força em Ipanema. Isso era mais ou menos 1974.

Houve um hiato, e Ipanema tornou-se meu ponto de visitas semanal, aos sábados pela manhã. Era dia do curso de inglês, as aulas eram chatas. A rotina habitual rezaria descer Siqueira Campos até Avenida Copacabana, e virar à esquerda, no sentido do trânsito. Muitas vezes fiz oposição: ir na contramão dos carros significava mais uma aula fraturada. Não me arrependo. Era um ritual: percurso até Francisco Sá, subida e, num certo momento, sentir o cheiro, a delicadeza, o desconcertar de Ipanema. Era Visconde de Pirajá, era o Gordon, a General Osório, até chegar perto do Chaplin, nas imediações da Farme, outra Farme, outros tempos. Havia sempre meus amigos de infância por perto: André Ricardo, Pedro Brito, o saudoso Flavinho.Oitenta e três, oitenta e quatro, por aí. De tempos em tempos, era comum encontrar um amigo, Marco, no Leblon – e eu fazia questão de vir a pé, degustando o caminho, namorando Ipanema. Isso até os noventa.

Novo hiato. Ipanema virou casa de amor para mim, noventa e quatro. Apaixonei-me perdidamente por uma moça da Barão da Torre, Tatiana. Nada deu certo. Foram seis meses de beleza, poesia, paixão e fé. Eu cruzava as ruas do bairro, eu vagava de vez pelo Arpoador, tudo trazia-me um aroma de la dolce vita. Morreu amor, Ipanema ficou.

Virou o século, voltei para Ipanema. Aos pés de onde meu sentimento brotou, Gomes Carneiro. Virei comerciante, também não deu certo, dois anos sem um tostão de lucro material. Mas e as ruas? A beleza das mulheres? A simpatia das pessoas? O ir e vir com certo balanço a caminho do mar, que o poeta imortalizou? Mais uma vez, meus sábados eram sagrados no almoço, a mesma Pirajá, a mesma praça, tudo. Foi o mais recente capítulo. Passaram três anos.

Estou no hiato novamente? Sim.

Na verdade, é mero pretexto para uma volta a Ipanema, que há de acontecer em algum momento. Nunca morei na terra ipanemense, mas é como se eu dela fizesse parte desde o nada – ou mesmo antes dele, se tivesse que parafrasear um craque como Nelson Rodrigues.

Meus hiatos justificam-se: são necessários para que, cada vez mais, meu respeito, carinho e admiração por Ipanema fiquem reforçados, crescidos, permanentes, com os mesmos olhos infantis que eu a via desde os tempos do Pernalonga.

Paulo Roberto Andel, 23/03/2007

2 comentários:

Carlos Zev Solano disse...

Oi Paulo,

vale comentário de participante?
Ipanema é um sonho. Terra boa, entre o céu, o mar e.... a lagoa. Dos mergulhos nas madrugadas, da vizinhança bonita, do comércio ativo, de tudo perto. Andar de havaianas, correr na praia, parar e olhar para o mar. Pena que a violência de nossa cidade tenha mexido um pouco com ela. É de lamentar também que poucos sejam os bares na Visconde de Pirajá. Dia de semana, 21h00, um deserto pela rua principal. É de dar medo ou no mínimo receio. Gostei das suas memórias, fazem agora parte das minhas também.

Abraços.

Unknown disse...

Olha só o que achei. Um guardanapo do Chaplin! Está em http://tinyurl.com/chaplindavisconde

Abraços,

- c.a.t.