Tinha 15 anos e adentrei num 584 lotado, avistei ao longe uma loirinha de olhos claros de tez alvíssima. Estava ouvindo um walkman, na janela seus cabelos finos esvoaçavam. Aproximei-me ao máximo que pude para me colocar em delírio com os anjos. Linda e sorridente, vez por outra se virava suavemente para entender o movimento dentro do coletivo.
Ansioso, tencionava sentar-se ao seu lado. Pensei positivo o máximo que pude e no decorrer da viagem, já mais vazio, consegui finalmente ficar mais próximo daquela musa. Devia ter uns 14 e continuava sorrindo com a música. Meu destino já estava chegando, precisava falar-lhe algo. Mas, o quê?
Seu perfume me chegava pelas madeixas louras, suas coxas roliças apertadas numa calça jeans me davam o contorno de quadris largos e ajudavam a realçar a diferença com a cintura fina coberta numa t-shirt. Com o balançar do ônibus, suas pernas encontravam as minhas. Eu já não me agüentava de volúpia. O sangue fervilhava, borbulhava, meu corpo estava tomado, anestesiado, a lascívia havia tomado conta.
Fala alguma coisa, eu pensava. O soprar mais afoito do vento vindo da janela fazia com que as longas melenas se enroscassem entorno do rosto e dos olhos. Cheguei bem próximo para que ela pudesse escutar e disse:
- O cabelo é bonito, mas incomoda né?
- É - respondeu ela com um imenso sorriso.
Como fui falar tal asneira? Fiquei com um "é" sem continuidade. Eu devia saber que perguntas de sim e não, ou similares, jamais podem ser feitas. E agora o que fazer? O que falar? Minha confiança se esvaiu num "é". Até minha anatomia se assossegou.
Fez o sinal. E lá foi ela, minha primeira cantada numa desconhecida. Sem sucesso. Saltou, fiquei lhe acompanhando com os olhos perdidos. De repente, ela olhou e fez um aceno carinhoso. Enrubesci. Depois daquele dia peguei a sopa todas as vezes no mesmo horário, queria vê-la novamente. Nunca mais a vi. Ficou uma paixão platônica por uma imagem que jamais enxerguei de novo, mas que a guardei para sempre.
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