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sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Diga-me meu bem

Você sempre esteve nos meus sonhos

Logo que a toquei senti que era você

Venha meu amor me conte sua história

Venha e me tome como seu amor

 

Qual é a sua história?

Estou aqui sozinho te esperando

Fale-me de amor

Que eu quero você

 

E quando eu estiver triste

Venha me consolar

Eu preciso tanto de você

 

Esteja sempre ao meu lado

E vamos caminhar

Em direção ao infinito

Onde os amores se encontram

 

Lá seremos felizes para sempre

Desejo-te todos os segundos

 

Aquelas luzes verdes me conquistaram

Desde a nossa inocência que te imagino

Em meus braços

E seus cabelos escorrendo pelo meu peito

 

Onde você quer ir agora?

É tão difícil de encontrar um amor igual ao nosso

Eu sou o culpado por todo esse amor

Ele explodiu no meu coração

 

E agora num mundo novo

Com as gramas verdejantes

Vejo uma luz a nos procurar

 

Onde está aquele amor?

 

Ele está aprisionado em nossos corações

E precisa ser solto

 

Não é justo tão belo sentimento ficar preso

Ele precisa ser livre

Feliz e alegre

Para alegrar todos em volta e

Contagiar de amor a cidade

Deixar todos com sorrisos nos rostos

 

Venha meu bem me conte sua história

E me ame

Intensamente

Para sempre

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Quando o amor surge

            Na floresta caminhava um ser. De asas, de olhar incrustado e de busca. Agressivo, se tornava um anjo diante das brisas. Parte homem, parte demo e ainda querubim se perdia por entre os arbustos, folhagens e raios de luar.

Endurecido pelas agruras da sua vida havia se transformado mais em raivoso do que paciente e terno. Contrariava assim tudo que lhe fora dado pelos pais e de como nascera. Tinha vindo ao mundo para amar, mas não compreendia isso. Afastava-se dos carinhos, do querer bem e do desejar. Seu tempo de Terra se afigurava como sendo contraditório, quanto mais se dava mais sofria. Isso desde o tempo em que um raio lhe atingiu, embaçando suas vistas. O trovão da praia ensurdeceu.

Se refugiou nas árvores, nas cavernas e lá ficou por mais de mil dias. Vivendo de cereais e água se conformou com o destino.

Num último suspiro buscou renascer. Voltou à beira-mar e lá avistou uma alma. De fortaleza aparente, o novo estranho se mantinha de teimoso.

Parecidos, de experiências espirituais e sofrimentos logo se encaixaram. Nos olhares e no toque. Sensíveis e embrutecidos, faziam do cansaço das tristezas a força do aparecer. Agora ali permaneciam ao som de suaves ventarolas a contemplar o mar. Querer e estar. Construir e amar.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Aqui e agora

Andava livre e despreocupado com a vida, o dia seguinte era sempre outro dia e nada tinha a ver com o dia anterior. Lia livros e delirava com seus pensamentos. Criativo e irrequieto, o músico esquecia o ontem e nem pensava no amanhã. Queria curtir. Mas, às vezes, lhe batia uma tristeza, uma melancolia, mesmo no palco e em música alegre sentia que faltava algo. Família não era sonho, pois a realidade lhe era muito distante. Dinheiro era para o momento, segurar só a guitarra e as mulheres daquela noite. Errante, sem destino, sem programação, objetivos falidos, inválidos.

Na infância pensava no quão duro seria a responsabilidade de sustentar uma casa, pessoas, filhos e de como ter que ser reto, sem deslizes. Terror. Pavor. Despreparado era como se sentia. Viu, no entanto, que existiam pessoas menos responsáveis, descomprometidas, mas, que se aventuravam. E se assustava. Pareciam felizes. Como conseguiam?

Tentou pela vida a fora encontrar seu amor, seu caminho. Bateu de porta em pessoas e os desacertos se acumulavam. Importava-se com cada detalhe. Onde tinha errado? Mudava, se aprimorava, o cenário continuava o mesmo. Errante.

Desatinos, mais uma decepção e lá ia ele insistir em outra trilha. Cansou. Largou tudo de lado, fez o que deveria, pensava ele, o que tinha que ter sido feito desde o início. Ao invés de tentar uma vida reta, correta e preocupada com os sentimentos, seus e dos outros, desregrado deveria ser.

Manteve o bom senso e não destruiu a vida, mas, sim, deu pouco valor para reunir dinheiro. Investiu no ser. E curtiu cada instante como se fosse único.

Nas baladas das suas músicas exprimia o que sentia o que percebia. Introspectivo, pensativo, angustiado e alegre. Feliz com pequenos momentos, triste considerava o louco mais lúcido ou o sereno mais doido.

Paz de espírito estava jogado na rede. Escrevia sua nova música. Intocável. Distraído. Aquele homem foi o melhor que conheci. De uma tranqüilidade capaz de me contaminar. De um olhar, de uma ternura ímpar. Puro. Viril. Queria alcançá-lo, mas o mundo dele era outro. O dos devaneios, do céu e da terra. Das águas, das cachoeiras e do caminhar por entre as pedras. As folhas eram brilhos nos raios de Sol, a palavra poesia e seus beijos de um amor incomensurável. Como o amei, e ainda o amo. Aqui estou aqui e agora. Venha me buscar e lhe farei feliz por toda a vida.

domingo, 25 de novembro de 2007

Coisas tão simples

Algumas doses de recadinhos na manhã.
Colheres de chá ao atender aos meus raros pedidos.
Folhas de surpresas de amor e carinho. De visitas inesperadas. De encontros não programados. E de ligações: “Eu te amo”.
Pitadas de lembranças de situações e locais.
Decisões moídas que me levam em conta.
Abrir um pote de sonhos, anseios e segredos.
Espalhar pela mesa todas as porções de vida.
Juntar tudo e untar com muito amor.
Esperar por alguns minutos e levar a sério tudo o que digo.
Levar ao forno do desejo e carinho por cinqüenta anos.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Menina

Se Deus um dia me perguntar qual foi o dia mais feliz da minha vida, falarei que foram aqueles em que estive contigo. Mas, Ele já sabe, enxerga meu coração e vê o quanto amo essa menina. Percebe como meu sorriso é largo e fácil quando estou com ela. A mais eterna felicidade está nos meus olhos. O quanto enfrentamos tempestades juntos. Dos momentos que nos protegermos com a capa do amor. E em meio ao trovão e a chuvarada nos beijamos, nos curtimos e nos amamos. Nos suores e odores ternos e na pele eriçada ao toque. Na vontade do junto estarmos por poucos minutos, horas, mas que são para sempre. E para sempre serão.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

23 horas

Quando for 23 horas em ponto
E por acaso fechares teus olhos
Surgirá uma luz lilás
Enxergarás no interior minha imagem
Verás o meu rosto e o meu sorriso

E se te agradares desta visão e imagem
E permaneceres com teus olhos fechados
Os meus olhos dentro dos teus olhos
Faiscarão como as estrelas cheios de amor

E neste incrível prisma passarás a sentir
Sendo 23 horas em ponto
Sentirás o toque de nossas mãos
Amigas e companheiras - ÚNICAS!

O calor dos nossos corpos
Que se buscam e se encontram
O cheiro perfumado de nossas peles
E as gotículas dos suores misturados

E ainda de olhos fechados às 23 horas
O doce e possessivo sabor dos nossos beijos
E se por acaso nesta hora em ponto
E tu com teus olhos fechados estiveres

Saberás que todo este êxtase
Estará sendo emanado por mim
Que pontualmente fecharei os meus olhos
E mentalizarei as mais lindas preces pra ti.

E se assim nos acontecer
De fecharmos nossos olhos
Às 23 horas em ponto
Não estaremos sós.

Ela

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Amor no segundo tempo

Dream No. 2 - Zhang Fazhi

Foi amor à primeira vista.
Mas, com um detalhe importante: no segundo tempo.
Após um primeiro instante da minha vida.
Não no momento ideal, mas no que tinha que ser.
Se a conjectura do espaço-tempo não era a perfeita, a concluída, tudo o mais foi.
E tem sido a favor.
Uma energia espiritual e corporal entre dois seres de causar inveja.
Coincidências enormes.
Gostos idênticos.
Dos detalhes, como a bala que mais gostamos.
E a força e os fatos.
Tudo tem se encaixado.
Ajustado.
O que fora uma situação complicada se transforma em sonho.
Realizações.
Flui de maneira que só Ele poderia arquitetar.
União perfeita. Nos espelhos se mostra a dos corpos.
Nos corações, a da alma.
Todos os dias agradecemos e de volta trazemos a fê-lê-cidade.
Queremos o bem para todos.
Amorosas criaturas.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Tijolinhos

Um castelinho de tijolos, ao longe se vê a casa alaranjada de amplas janelas. Um pátio a circulá-la. Uma murada de estilo a circunda. Jovens a pulularem. Hora do recreio. Sorriem, se divertem, ô idade boa.

No passado, lá estávamos nós a brincar, fazer travessuras. Bombinhas, giz, bolinhas de papel, barbantinhos cheirosos. Cabelos ao vento da beira-mar. Bolas, futebol e vôlei em frente ao colégio. Paqueras por cima dos pilares de cimento ao redor da construção.

O pátio nos parece enorme, somos pequenos, vinte e cinco anos depois nos divertimos vendo o quanto nossas noções de espaço eram deturpadas ou será que não? As salas com suas mesinhas são românticas, vistas agora pela gente. Os banheiros que antes amplos eram, lembram casas de bonecas. Lembranças e reencontro se reúnem nesse momento!

domingo, 12 de agosto de 2007

Água-forte

Do firmamento azul e curvilíneo
Cai, fecundando as trêmulas raízes
Dos laranjais, dos pâmpanos, das lizes,
A luz do sol procriador, sanguíneo.

Pelo caminho agreste e retilíneo,
Da tarde aos brandos, triunfais matizes,
A criançada, a chusma dos felizes,
Esse de auroras perfumado escrínio,

Volta da escola, rindo muito, aos saltos,
Trepando, em bulha, aos árvoredos altos
Enquanto o sol desce os outeiros longos...

Vai dentre alados madrigais risonhos,
Do abecedário juvenil dos sonhos,
A soletrar os principais ditongos.

Cruz e Sousa

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Cem anos

Detergentes fazem espumas nos rios.
É necessário deter gente que polui
Para se ter gente no futuro.
Que a sede na gente não mate.
Tiremos o às da mão de gente que não sabe o que faz.
Sabemos que têm muitos asnos com mão de gente.
Muitos estão conosco, perto da gente
Por isso, peço: cooperem com a gente.
Fiquem perto, sintam-se gente.
Ar poluído, causa tosse na gente.
Tô sem fé nessa gente.
Os pobres sofrerão mais, salvem essas gentes.
Na selva, meçam os agentes.
No céu vamos, vejam os assurgentes.
Tudo que eu quero é ainda ter gente em cem anos.

terça-feira, 31 de julho de 2007

Para Bergman e Antonioni

Inevitável é a morte. Vívida num dia de sol, enluarada pelo negrume da noite vã, alvissareira numa tarde outonal, ela é sempre presente. Sabemos disso, é a sina. Contudo, certas gentes deveriam ser proibidas de morrer, bem disse um intelectual em certo livro de minha cabeceira. Dia desses mesmo, falei de minha maravilhosa mãe, que está presente em todas minhas vistas, mas inalcançável ao tato. Agora entendo a lógica de se chamar o homem de "pobre mortal". Vivos, estamos mortinhos quando nosso amor não está mais ao alcance das mãos, ou do corpo, conforme cada caso. Minha mãe deveria ser banida da morte. Meus amigos Magno e Xuru, idem. Tom Jobim, também. John Coltrane. Por que o Lennon não era à prova de balas? E onde estava o Superman, que não desviou os aviões do Osama ou segurou o da Tam? Tim?
 
Mal começou a semana, a última julina, com agostos à beira, dois homens seguiram a tempestade: Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni. Desde que a terra é terra, em poucas vezes uma semana começou tão derrotada. Foram embora dois gigantes da arte, cada um a seu modo, Bergman poucos anos mais novo que Antonioni, um dos ídolos do sueco.
 
Faziam cinema. Realizavam mágicas, essas coisas de se colocar uma visão duma historieta qualquer e fazer o ser humano pensar, pensar. Refletir. Sonhar.
 
Não foram poucas as gerações pelo mundo que deixaram-se impregnar pelo aroma magnético do cinema - e, se aquele mesmo mundo mudou um pouco para pior, é porque talvez tenhamos menos cinema nas veias do que deveríamos. Bergman e Antonioni eram sangue arterial, para alimentar corações e mentes. É certo que beiravam o centenário, mas... e daí? Niemeyer segue firme e forte desafiando convenções, homem de dois séculos. Poderiam ter ficado mais um pouco, o ítalo e o nórdico. De toda forma, alcançaram objetivos raros: viver da beleza e da poesia, construir o que realmente significaria uma obra, uma carta para a posteridade, muitas.
 
A perda é inevitável, não cabe constestação. Porém, um constrangimento fiel me vem à cabeça, como de algumas outras: a obra dos sujeitos fica, é permanente, mas sabemos que novas não virão. Quem fica no lugar deles?
 
Há quem diga que ninguém é insubstituível. Desconfio dessa frase. Creio ser mais apropriada qando ela refere-se aos humanos como números: um CPF, um título de eleitor, um transeunte, um paciente. Generalidades. No particular, não funciona.
 
Alguns personagens perdidos são lacunas eternas.
 
Como se repara o irreparável?
 
Eles faziam cinema.
 
Paulo-Roberto Andel, 31/07/2007

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Tímido Amor


Walking - Hye Seong Yoon
Lá vai ela caminhando para o Cícero. Saias pregueadas, rosto angelical e longas madeixas. Carrega consigo uma bolsa e a esperança de amores verdadeiros. Rosas bochechas e olhos agateados.

Lá vai ela. Trago minhas esperanças de um dia tê-la. Adentra pela entrada principal de forma frugal. Troca olhares charmosos. Sonhos em seus pensamentos.

Lá está ela, sentadinha e comportada nas primeiras cadeiras da classe. Atenta às aulas e aos garotos. Não percebe meu avistar, minha cobiça. Vejo-a lá detrás. Pouco distingo a não ser um pouco do perfil, estou enviesado.

Hora do recreio, fito-a mais uma vez. Ela não percebe, está entretida com sua coleguinhas. Sorridente, penso no que seria bom abraçá-la. Passa por mim e minhas mãos correm pelos seus cabelos. Distraída olha para trás, mas não percebe quem transmite o desejo.

Voltemos às aulas, fico à porta admirando a beleza daquela menina tímida. Mais acanhado, no entanto, sou eu que desvio o olhar quando ela me passa nos olhos.

Finda as lições sou dos primeiros a sair, mas engana-se que fujo para casa, fico na murada fingindo despreocupação só para não ter que me embaraçar com o mirar daquela guria à saída. Agora contemplo seu corpo, suas curvas e sinto o carinho infinito que tenho por ela.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Sedução em Copacabana


Mermaid Beckons - George Willoughby Maynard
Vinda da beira-mar reluziu uma sereia de sorriso esfuziante para iluminar meu caminho. Era março e lembro daquela jovem a me encantar e com as mãos a me puxar para a felicidade.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Tarde em Copacabana


Sunset on Beach - Byron Browne
Sol se pondo, avistaram a praia
Mãos dadas tal primeiro encontro
Linda, estampado de cambraia
Exir muitos anos num recontro

Decote, transformava a mulher
Nos olhos castanhos e sardas
De tempos, no peito se acolher
Andavam por jardas e jardas

Todos passavam, iam e vinham
E anoiteceu, mas abraçados
Não esmoreciam, mais queriam

Minutos, e mais reviçados
Arrastos, uniões comprimidas
Peles permaneciam cingidas

Aninha


Young Girl Plaiting Hair - Albert Bartholomé
Graciosa morena, o tempo não havia passado para aquela mulher. Ainda tinha um rosto de menina. Bochechas protuberantes, cabelos longos e lisos. Pele sedosa e bem cuidada. Um amor de pessoa. À minha frente sorria se divertindo com as bobagens, com a Coca-Cola e as comidinhas. Encantadora. Amiga para toda a vida. Serena, gentil e carinhosa. Uma querida! Seus olhos brilhavam de alegria. Agradeceu-me pela presença, mas não havia a menor necessidade. Já havia declarado o quanto gostava dela e o quanto ela representava como colega para mim. Tenho um profundo carinho e estima por ela. Sintonia. Fechado, mas não insensível. Gosto detectado desde o primeiro instante de reencontro. Amável. Adoro essa garota.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Que saudades do futuro!


Imaginations and Objects of the Future - Salvador Dalí
Em cem anos estaremos todos nos locomovendo em trens para longas distâncias. Esse era o postulado da década de 40 do século XIX. Mas, poderia ser aplicado hoje, pois quem duvida que o aquecimento global – desenfreado de agora – não irá desencadear mudanças nos nossos costumes a partir de 2010?

Não existirão mais carros, usar-se-á um Maglev - o trem-bala japonês – teremos a nosso dispor esteiras rolantes tal como as de Las Vegas, do Metrô de Copacabana, ou como as do desenho animado Jetsons. Aliás, Joseph Barbera, falecido recentemente, sem dúvida foi futurologista, previu, junto com Alvin Toffler, Isaac Asimov, Stanley Kubrick, Júlio Verne, entre tantos outros, muitas nuances da vida várias décadas antes. Sua arte de antever cenários do futuro está muito além do que qualquer um podia imaginar quando do lançamento da animação em 1962. Sem dúvida, bastante gente deve se lembrar das teleconferências entre o George Jetson e seu chefe, o sr. Spacely? E do microondas? O cruel é lembrar que não apareciam árvores, terras ou mares em nenhum dos 24 episódios da série finalizada em 63. Será tão implacável assim o destino da humanidade?

Lá pelos idos de 1840 a Inglaterra já possuía um imenso emaranhado de linhas férreas, já eram 4500 quilômetros. E o Brasil ainda engatinhava com míseros 14,5 km, 14 anos depois. E esse pouco se iniciou por conta de um utopista, o então Visconde de Mauá, idealizador da primeira estrada de ferro, construída em 1854 que ligava o porto a Fragoso – serra de Petrópolis. E só muito depois, então veio a tão festejada Madeira-Mamoré. Quem dera não se tivesse seguido esta trilha, mas perdeu-se o “trem” da história. Linhas difusas, bitolas diversas e falta de vontade política engataram de vez um futuro sombrio para os transportes de massa e de produtos.

O curioso nisso tudo é que as previsões, outrora otimistas, quanto ao que aconteceria décadas mais tarde ia por um caminho bem mais modesto, mas menos assombroso. Hoje, o que se vê é que uma evolução mais controlada e menos avançada poderia trazer muito mais benefícios do que as que temos atualmente. E melhor sem efeitos colaterais. Ou alguém ainda duvida que as catástrofes naturais não sejam reações a um crescimento desmedido e sem planejamento. E a AIDS, não seria ela fruto de experiências em engenharia genética ou assemelhadas? Qual é ou será o efeito colateral da Internet? E dos transgênicos? Estará o homem se perdendo em meio a sua ganância? Culpa do capitalismo desenfreado? Da globalização? Sabe-se sim que aquele futuro dos livros de Júlio Verne, era muito mais romântico, atrasado, mas com certeza seria melhor para a humanidade.

Que saudades do futuro! Do futuro que se imaginava na década de 80.

Nostalgia do que ainda poderia vir.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Cracks da pelota


Football - Arsen Savadov

Duas voltas e meia, surpreendo-me com a velocidade dos tempos, da vida.

 

Outro dia mesmo, eu lembro de ter vivido o dia mais silencioso de toda a minha vida. Tinha quatorze anos, era um menino.

 

Cinco de julho de oitenta e dois, assim me permitam. O fatídico dia em que o Brasil, pátria de chuteiras em campo, perdeu para a garbosa seleção italiana. Falecido estádio Sarriá.

 

Algumas coisas devem ser levadas em consideração sobre aquele capítulo peculiar da história futebolística mundial. Primeira delas, a mais fácil – embora nós, brasileiros, com algum sentimento de "superioridade" para compensarmos as mágoas de um país que não deu certo, não tenhamos tanta facilidade em ver: a Itália, naquele dia, foi melhor e ponto. Talvez jogasse contra o Brasil seiscentas vezes e perdesse quase todas, exceto a daquele dia. Difícil encarar, mas os ítalos mereceram.

 

Segunda, bobagem dizer que "venceu o futebol-força". Naturalmente, a seleção brasileira vinha de um momento encantador, jogou dois anos e perdeu apenas três vezes. Nós tínhamos um timaço, sim. Porém... Zoff, Scirea, Cabrini, Tardelli, Antognioni, Conti, Altobelli e Rossi eram excelentes jogadores também. Nosso conjunto era mais bonito, só que eles também tinham talento, embora bagunçado até então. Foi a única vez em que a seleção de Telê tomou três gols – na verdade, quatro, dado que Mister Abraham Klein, o árbitro, descontou mais um da Itália no finzinho do jogo.

 

Terceira, a terrível má interpretação que se criou pelo fato de que, se o "bonito" perdeu, que se louvasse o "feio". Graças a esse erro patético, criou-se o assustador termo de "volantes de contenção" – tudo para esconder verdadeiros assassinos da bola, priorizando-os em vez dos verdadeiros jogadores de futebol, os que sabiam da pelota, os craques. Meu time de botão daqueles tempos tinha o Falcão de volante, e bastava.

 

De lá pra cá, foi terra que girou.

 

Acabaram com a União Soviética, o Muro de Berlin, uma considerável parte do Brasil, não deixaram nada no Iraq.

 

Matou-se e morreu por muito pouco, quase nada.

 

Hoje, brasileiros que somos, temos celulares, comunicação, internet, desenvolvimento. Porém, assim como era o bife nos anos cinqüenta ou o carro nos anos vinte, para poucos. Para quem tem dúvida, basta abrir a janela do carro.

 

Chegamos até a ganhar Copa do Mundo outra vez, uma quase feia, outra quase bonita. Nada que chegue aos pés de México 70. Nem ouso falar de Chile e Suécia.

 

Aquele bendito jogo teve sua mágica, o do Sarriá.

 

Até hoje, pelos campos da vida, eu fico procurando destroços daquele dia, como um passe, um drible, uma jogada, um corta-luz como esse que o Dodô fez outro dia, antes dos homens da lei o embargarem, o tal do doping. Se Sarriá fosse um desastre aéreo, estaria eu pelas matas do futebol a tentar resgatar um relógio, um pedaço de papel, qualquer coisa que significasse vida naquela maravilhosa e curta trajetória.

 

De vez em quando, acho. É difícil, mas acha-se.

 

Nem precisa ser nas vitórias do meu amado Fluminense. Não temos mais os times de antes, nem teremos: os empresários e cartolas dilapidam tudo em questão de meses, ou semanas. Qualquer dez míseros bons minutos de uma partida valem.

 

Naqueles tempos de Rossi, eu fazia oitava série. Por semanas, é claro que o assunto da velha escola tratava do velório nacional. Velório do futebol? Nem tanto. Fizeram – e fazem - de tudo para enterrá-lo, com autoritarismos, golpes, bajulações, desvios. Não adianta.

 

Chegava em casa, certo muxoxo, minha querida mãe falava pra ir jogar botão, bola, aquilo tudo passava. Passa rápido.

 

Vinte e cinco anos depois, tem jogo hoje contra os uruguaios. Essa marca vem de cinqüenta e sete anos, do gol de Gigghia, faltava muito ainda para eu nascer. Contudo, sei da força daquela história – um ano antes do Sarriá, perdemos o Mundialito em Montevideo, e vi muita gente de cabeça baixa na segunda-feira seguinte.

 

Agora, Copacabana deserta, sem gente, sem carro na rua, só no dia do 3 x 2.

 

Tenho saudades da escola.

 

Tenho saudades da minha mãe.

 

E muita saudade daquela derrota, porque nos dias seguintes, tudo o que eu e os outros garotos pensávamos era que a Copa seguinte seria nossa, aquele futebol era indestrutível.

 

Os tecnocratas de plantão impuseram por decreto a regra do futebol-força. Independentemente de qualquer resultado hoje ou amanhã, Robinho e Riquelme, por exemplo, estão acima disso.

 

Se for o caso, melhor perder a Copa América jogando mal do que vencê-la. Os louros da vitória às vezes enganam. Dunga, o treinador, diz que os que jogam bonito podem ficar vinte e quatro anos sem vencer uma Copa do Mundo.

 

Os bons italianos, de 1982 até 2006, também esperaram os mesmos vinte e quatro anos. E não convenceram.

Texto de Paulo Roberto Andel

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Gotham City, por um triz


Untitled (Street Mosaic, Rio de Janeiro) - Charles Martin

Noite de outono gelada, éramos eu e Max a caminhar pelo negrume da Gomes Freire, avenida que já fez os encantos da capital e hoje, embebeda-se de nostalgias, decadências e um futuro que pode tanto ser de samba quanto de réquiem. E nossas vizinhas, lindas? Não pudemos avistar, dado o adiantado da hora. Silêncio perene da rua, nada de carros a não ser nos motéis da região. Pedestres? Quais?

 

Veio a delegacia. Uma viatura estacionada e, dela, surgiu um policial com seu fuzil à nossa esquerda. Levei breve susto; afinal, nós, cariocas, por mais que vivamos uma guerra civil silenciosa que alguns insistem em esconder, ainda não estamos acostumados a fitar fuzis com naturalidade, feito fossem o chope dourado da felicidade ou a mulher amada. Outro policial, outro fuzil. Atento para a saída do terceiro homem, um talvez meliante, de olhos assustados e punhos algemados. Era um preto novo, de seus poucos vinte. Parecia aterrorizado. Não saberia dizer se era um assassino, um ladrão, um golpista ou mesmo um preto – que, nesta terra, ainda é motivo para quase prisão, mesmo que tentemos veladamente ocultar o assunto, para não revelarmos nossa mais áspera face, a de sociedade perversa, fria, cínica, despreocupada com a grande maioria das gentes, preconceituosa e racista, pois. Os homens da lei também eram pretos, ou negros se o racismo inverso assim exigir; contudo, pretos diferentes, pretos em defesa da lei. E mesmo que estivessem mais do que certos, capturando um perigoso bandido, passou-me pela cabeça uma das cenas típicas de outro século, a do preto fugido, quando era reconduzido pelo capitão-do-mato ao seu dono. Não seria analogia barata, há resquícios de coisas assim em todas as terras que percorremos nesta capitania, como se eternamente estivéssemos condenados a viver como se fosse naquele modelo.

 

O horror foi de um instante, um triz, uma vírgula. Logo viria a próxima esquina.

 

Ledo engano.

 

Eram sons de sirenes. Ambulâncias vermelhas.

 

Demo-nos por conta, havia um sujeito no último andaime de uma obra abandonada na rua da Relação. Um candidato à morte voluntária, tal como eu fui um dia, feito cada um de nós por quase um segundo. Dezenas de pessoas ocupavam a rua, havia engarrafamento, confusão. Um sujeito perto de nós contou uma história, a de que seria um moço sem casa que, acolhido pelo pastor de uma igreja, roubou-a com um comparsa que foi preso – denunciado, ameaçou acabar com a própria vida. Verdade ou não, eu e Max aceitamos a premissa.

 

Houve quem gargalhasse com a possibilidade da queda do sujeito, mais do que real. Alguns gritavam de perto da portaria virtual, pediam que pulasse – e não arredavam pé dali, donde desconfiei que eram pouco afeitos às leis da física, na condição de potenciais vítimas terrestres de um suicida.

 

Nós fitávamos tudo de certa distância. Logo ao lado, o "Caveirão", veículo de combate que, teoricamente, é um instrumento de paz para populações carentes vitimadas pelo tráfico vizinho. Controvérsias à vista, creio.

 

Outro triz surgiu em minha vista. Eu lembrei do dia em que, ainda menino, vi corpos voarem em chamas do edifício Andorinha, o mesmo que hoje dá bons dividendos ao meu amigo de arquibancada, Max. Eu era um garoto e vi as mortes pulsando a todo instante. Recordei meses antes, quando três mulheres dependuradas por uma mangueira de incêndio, em um prédio da Senador Vergueiro, não resistiram e espatifaram seus sonhos no asfalta, tudo por obra de um louco incendiário.

 

Não havia fogo. Gelo, sim. Frieza, necessária quando a vida está no limite.

 

Enquanto o pastor e amigos subiram nos escombros para tentar dissuadir o possível suicida, um bombeiro subiu lentamente os andaimes. A lentidão de quem tem certeza da vitória, mesmo num momento como aquele, onde tudo parecia féretro. Houve um golpe, o bombeiro imobilizou o sujeito, os dois com a vida em risco. Uma vida foi salva, mesmo que efemeramente. Por mais estranho que pudesse parecer, e é, os mesmos que gritavam ao desesperado para que pulasse, aplaudiram o salvamento. Eu compreendo, pois rezo a cartilha de Enrico Bianco, onde só o que realmente importa no homem é a contradição.

 

Quando o espetáculo trágico se desfez, sem o final talvez esperado de maneira mórbida, os populares começaram a retirar-se. Max me disse do brilhantismo do homem, daquele que pôs a cabeça em prêmio para salvar o desconhecido: não sabíamos dizer quanto ganhava por mês, se tinha filhos, se a esposa em casa sabia que ele atrasara-se para o jantar para resolver um pequeno pepino profissional. Em seguida, o amigo se foi para sua Barra, sua Beverly Hills carioca sem suingue sangue bom, contrariado.

 

Eu desci a rua. Sozinho. Não havia mais risco. O preto novo foi encarcerado, o quase morto renasceu. Foi tudo por um triz.

 

A morte, sempre tão sombria e certa de sua vitória, ali naufragou.

 

Um ou outro bobo, quase todos devem ter ido para o bar, fazendo pilhéria do caso.

 

Meu silêncio tomou-me de assalto. Era tudo Gotham City, sem Batman, Comissário Gordon e nem mesmo a espetacular Mulher-Gato.

 

Só.

 

 


Texto de Paulo Roberto Andel

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Em desalinho


Awkward Every Moment - Laura Sharp Wilson – 2003

Sempre fui estabanado. Onde fosse derrubava tudo. Talvez pelo crescimento acelerado ainda quando jovem e a coordenação motora deficiente. O corpo tinha crescido e a noção de espaço não acompanhara.
 
Já no colégio de primeiro grau, hoje ensino fundamental, me via às voltas com as minhas pernas compridas demais. Tropeçava tanto que ganhei o singelo apelido de Tropeço numa referência a um personagem da família Adams.
 
Com as meninas então era um desastre, ficava todo atrapalhado. Juntava-se ao já natural desastrado uma pitada de timidez e completava-se o vexame. Era um tal de esbarrar, derrubar meninas, cair sentado e até se machucar. Depois, levantar e ver todos aos risos e apontando para mim como se fora um total retardado. Aliás, acho que a impressão era mesmo essa. Quem não me conhecia tinha por mim a nítida opinião de estar diante de um imbecil. Só quem estudava comigo, sabia das minhas notas e tinha certeza que era só mais um desajeitado.
 
Na educação física me escondia ao máximo, mas seria absurdo conseguir, pois era o maior da turma. Além disso, só por causa da altura achavam que deveria um excelente jogador de vôlei, basquete ou goleiro de futebol, estava eu em destaque. Mas, a descoordenação era tanta que sequer a bola acertava.
 
Os anos foram passando e o drama aumentando, namorar era confuso, beijar sem machucar a menina, impossível, pisar no pé, algo comum. Dançar era risível, se assemelhava mais a um pangaré num concurso de adestramento tentando ser garboso.
 
A partir de uma época comecei a me incomodar muito com aquilo. Perguntava-me: por que eu era assim? Acompanhar uma aula de ginástica na academia era hilariante até para mim. Enquanto todos estavam indo para um lado, lá estava um único atrapalhado no sentido contrário. Alguns mais previdentes e velhos conhecidos já se afastavam sabendo do encontrão inevitável. Os risinhos não mais existiam, já éramos adultos, mas os olhares de reprovação talvez fossem ainda piores.
 
Certo dia, fui convidado para jantar na casa de uma namorada. Tomei todas as precauções, me distanciei do que eu podia derrubar, dos copos à mesa e até dos vãos entre os pés do móvel. Mas, esqueci da empregada. Eis que ela veio com uma jarra de suco a servir. Perguntaram: "quer suco?". Prevendo o pior, agradeci e recusei. Mas, a mesma voz insistiu: "você precisa provar o suco da Marlene". Assenti com a cabeça e... virei-me bruscamente, resultado: derrubei tudo. Acachapei a empregada e o que havia por perto. Uma hecatombe completa. Apavorei-me, levantei rapidamente tentando acudir e com os joelhos fiz pior, derrubei todo o jantar. Até mesmo a ex-futura sogra me olhou com ar de reprovação e porque não dizer de insatisfação. Puxou a filha de lado e lhe cochichou algo, como que dizendo: "você namora esse idiota?". Resultado: nunca mais vi a namoradinha.
 
Os traumas só fizeram crescer e até uma coisa até então despercebida me ficou mais clara. Afora acanhotado era também incrivelmente desalinhado. Mesmo de terno ficava mulambo. Por mais que as roupas estivessem bem passadas e ajustadas era maltrapilho. As vestes não caíam bem. Até para alfaiate particular apelei, nada resolvia e ainda fui obrigado a ouvir dele o seguinte: "jamais vi coisa igual, você tem altura, não é gordo nem magro, mas é sempre mal-ajambrado, parece sempre um pelintra". Nem sabia o que queria dizer aquilo, mas boa coisa não era. Naquele dia chorei como criança, que nem como criança havia chorado.

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quarta-feira, 16 de maio de 2007

Companhias


Sunset Over The Riviera - Karen Stene

Era uma noite do florescer da semana, um velho bar de antigamente, e a junção do mar e areia de Copacabana formavam um delicado quadro de fundo, tudo para emoldurar certa jovem mulher aos meus olhos.

 

Jamais tivemos oportunidade anterior de fazer isso, o de pacificamente sentar à mesa em plena beira do Atlântico, para prosa leve e desvelada, despreocupada por melhor dizer. Tudo tem sua primeira vez, até que pode repetir-se muitas vezes. Coisas que os amigos fazem, das melhores; os namorados, quando buscam o prazer da audição; mesmo os casais de ocasião. Todos, enfim. O Maestro Jobim declarou que só acreditaria em justiça quando todos pudessem morar em Ipanema. Em minha ousadia, complemento: justiça, apenas quando todos puderem saborear um garboso e pacífico chope em Copacabana, na orla, ao lado de predileta companhia. Mesmo que brevemente, vivi justiça.

 

Pensamento ao longe, alguns pressentimentos, mas nada que tirasse de mim a cativante presença da jovem mulher. Falava e contava de sua vida, de seu amor, de crenças e perspectivas. Por vezes, dissipava-se em sonora gargalhada; noutras, tomava ares de seriedade que, de alguma forma, não alinhavam-se com a expressão de seu olhar, nem da fisionomia – ambos, carregados de delicadeza e sem o ranço dos carrancudos, mais a beleza que já lhe é peculiar desde os tempos de Pedro Brito. Eu fitava as expressões, os textos e tudo fazia dali uma Copacabana de antigamente, talvez nem tão longe, mas claramente uma outra. Outros modos, outras histórias. Minutos e minutos correram feito loucos, de modo que as horas foram passando e nem havia como dar a devida conta. Eu também ri, eu também pensei e talvez tenha até falado mais do que devia, coisa que acomete os velhos de minha idade. Com os tempos, quase todos somos assim.

 

Era uma noite de luar exuberante, daquelas que Copacabana sempre faz por merecer. Descia calma, soberana, e provavelmente encantando os namorados pelos arredores.

 

A jovem mulher falava, cantava, contava histórias quase inacreditáveis e eu fazia vezes de silencioso expectador, ora esperando impactante novidade, ora contemplando os momentos agradáveis. Contava-me de certo alguém, decerto amor, e eu o senti certa ponta de inveja à distância, até um momento que, por força da narrativa, deixei de cobiçar o lugar. Não a companhia, naturalmente; desde muitos maios, não sabia de tão interessante mulher a contar causos, por mais tentativas que tenha praticado ao longo dos anos. São os tempos – e, neles, cabe um breve aprendizado sobre a importância da prosa, da conversa fiada e suave, do entretenimento com as palavras, que tantas vezes faz falta aos homens, às mulheres, e aos pares que se formam pelos mais variados motivos.

 

Eu tinha um compromisso. A companhia também. Poucos chopes, algumas iguarias, e despedimo-nos com o aroma do querer mais, imagino. As coisas passam rápido.

 

Despedi-me e deixei o bairro. Pelo caminho, encostado na janela do táxi, eu olhava as ruas, as calçadas, o ir e vir das pessoas e, subitamente, tudo pareceu-me ser como foi um dia. Uma outra vida, uma outra Copacabana, talvez aquela dos lanches no Cirandinha, mesmo no Bonino's; a Copacabana dos jogos de bola noturnos, sem iluminação, quando um ou outro chute desavisado atrapalhava os casais de namorados na faixa mais escura d'areia. Havia uma infinidade de Copacabanas: a das praças sem grandes, a das marquises sem moradores, a dos cinemas por todo canto. Tudo mundo, nada morreu. A memória eterniza.

 

Corrida rápida, cheguei em casa. Tempo de banho, preparar o último lanche, pensar no dia, na vida. Fim da jornada, meu telefone tocou e o texto causou-me um enorme dissabor: aconteceu uma decepção. Quem me falava do outro lado da linha sabia que ali, na frieza do telefone, seria a última prosa. Mal de amor.

 

Desliguei. Cogitei momentos de tristeza. Passaram ao longe. Quando eu lembrei do táxi, da velha Copacabana e da bela mulher que me encantou com sua outra prosa, tudo ficou menor.

 

Quando uma porta se abre para um caminho lamentável, importante é procurar outras, tantas, que ofereçam outros caminhos. Minha amiga Anne sempre fala dessas coisas, o de aumentar o leque, o estoque de probabilidades, tudo coisas dos profissionais da estatística.

 

Voltei ao amor partido. Perdeu valor, murchou.

 

Fiquei mesmo foi na dúvida se meu incômodo adveio do telefonema ou do fim rápido da conversa litorânea.

 

Vou voltar a Copacabana. Caso encerrado.



Texto de Paulo Roberto Andel

sexta-feira, 4 de maio de 2007

O espelho do jovem abnegado


Self-Portrait - Pablo Picasso - 1972

repare o inesperado, rapaz
fitando a ti num grande espelho
que te acolhe em impetuoso abraço
afaga-te e faz vezes de caso real
ele busca tua surpresa, teu encanto
perdido no álbum de fotografias
nas velhas lojas que cerraram portas,
na gente que sumiu das calçadas
vem sorrateiramente, num rompante
e não avisa ou notifica, faz questão
ele puxa-te feito fosse a mulher amada
ao deitar o rosto em teu peito
e subir lentamente, com toda calma
só para aumentar o gosto caloroso
do beijo mais provocante e suave
daqueles que não sabem tem o fim
repetem-se ora nos lábios, ora na mente
tomam-nos feito quem te abraça
é o inesperado, rapaz
vá de encontro a ele tal como juvenil
e sinta num segundo o sabor da vida


Texto de Paulo Roberto Andel

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Amores, algozes

O grito - Munch
A jovem senhora aguarda na fila com visível ar de cansaço, o que eu compreendo. Afinal, nem são sete da manhã, nem eu tive tempo de adormecer, e lá está ela. É forte, é digna, é silenciosa. Percebo que os vincos de seu rosto chegaram antes do justo e razoável, equivocados que estão com os traços suaves do mesmo rosto, reunindo fé e melancolia, esperança e tristeza. Tem a mão uma criança, uma menininha que deve ter por volta dos cinco anos e que, pertinente com a trajetória da infância, carrega um boneco e conversa com ele, quase baixinho. Sábia a menininha, sábias as crianças que, por vezes, falam para quem até ouve mas não há de responder. Melhor assim.

Continua aguardando pacientemente a sua vez na fila, debaixo do resquício de sol que se aproxima, solidária e silenciosa como outras senhoras que ali também se encontram, também com outras crianças e brinquedos espalhados nas mãos. É um grupo intenso. Parece-me que cumprem um ritual enquanto integrantes da espera: embora vestidas com roupas mais do que humildes, a dignidade lhes sobra. Indispensável também é supor as guloseimas que carregam nas não menos humildes bolsas, preparadas especialmente para aquela ocasião semanal: bolos, pastéis, talvez um frango. Todas na iminente expectativa que há de superar quaisquer revezes que se aproximem: a falta de acomodações, o desconforto de manter a impavidez estando com pesos a carregar e em pleno sol, a revista que será próxima e necessariamente humilhante. É lembrado que não possuem bens, contas, indumentárias finas, sobrenomes distintos e outros particulares que só os caciques de moeda conseguem - mas são serenas e firmes, delicadamente. Vejo um Brasil na fila, onde encontramos mulatas e negras, brancas e cafuzas, gentes de todos os lugares dessa terra - predominantemente nordestinos. Contudo, registre-se que o mais importante de tudo naquela fila de espera é o amor. Sim, o amor humilde e que recolhe seus pedaços nas lamentações para estar abrilhantado em instantes. O amor que supera a espera, as humilhações, a distância, a pobreza e tantas outras mazelas. O amor que desce nas imediações daquele portão enferrujado que serve que entrada para o depositário dos objetos de amor das imponentes senhoras da fila - os pais, namorados, maridos e avôs que ali aguardam um afável conforto efêmero, um beijo, uma visita, um toque de mãos ao rosto, um queijo.

A inenarrável crueza da vida nos presídios só pode ser ocasionalmente abafada pela caravana de amor que se forma naquela fila desconfortável de uma manhã de domingo. Senhoras, senhorinhas e crianças semeiam motivos para que os recolhidos da lei ainda tenham um motivo para sorrir. Há os que despejaram rancor e morte pelas ruas da Guanabara, assim como há os que roubaram galinhas; ficam todos empilhados num mesmo curral, onde a mesma violência não lhes deixa em paz. Não há dor que dure para todo o amanhã; por isso, esperam ansiosamente pelo sétimo dia da redenção do amor em paz. Não poderia ser em outro lugar que não a Rua Frei Caneca para selar a coincidência - o frei precisou ser fuzilado à época da colônia próspera porque nenhum algoz teve coragem de enforcá-lo, tamanha a sua dignidade - tamanho o seu amor.

As dores do corpo pela noite que se fez dia me atingem. Preciso ir.

Amor é o que aquela fila me disse aos olhos, por imagens torturadas mas fiéis.

Sempre.

Texto de Paulo Roberto Andel

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Para o dia que não dorme

Quadro de Nuno Nello
Os louros deitam suaves sobre teus ombros
Namorando teu rosto dentro da taberna discreta
Eu procuro grafite no teu olhar
Busco o açúcar mascavo da tua voz, que me serve de psicodélico agente
Você fala, tudo me soa música, densa, lenta e naturalmente melodiosa
Você ri, eu me perco num dia de muitos invernos atrás, quando todo tempo do mundo era nosso
Quando nosso louco amor fazia vezes de pacífico oceano
Lá fora, o veterano mundo novo come e dorme normalmente
E eu nem ligo
O mundo morre muitas vezes, respira com ajuda de aparelhos, sobrevive
Assiste impassível o escorrer do tempo numa ampulheta
Daquele dia longe até hoje, noites não faltaram, sonhos, perdas
Quatro mil voltas em torno do sol
E tudo, tão somente, para te ver novamente
E recordar o dia que não morre
Não dorme, nunca dorme


Texto de Paulo Roberto Andel

terça-feira, 10 de abril de 2007

Na sopa

Charing Cross Bridge - Andre Derain
Tinha 15 anos e adentrei num 584 lotado, avistei ao longe uma loirinha de olhos claros de tez alvíssima. Estava ouvindo um walkman, na janela seus cabelos finos esvoaçavam. Aproximei-me ao máximo que pude para me colocar em delírio com os anjos. Linda e sorridente, vez por outra se virava suavemente para entender o movimento dentro do coletivo.
Ansioso, tencionava sentar-se ao seu lado. Pensei positivo o máximo que pude e no decorrer da viagem, já mais vazio, consegui finalmente ficar mais próximo daquela musa. Devia ter uns 14 e continuava sorrindo com a música. Meu destino já estava chegando, precisava falar-lhe algo. Mas, o quê?
Seu perfume me chegava pelas madeixas louras, suas coxas roliças apertadas numa calça jeans me davam o contorno de quadris largos e ajudavam a realçar a diferença com a cintura fina coberta numa t-shirt. Com o balançar do ônibus, suas pernas encontravam as minhas. Eu já não me agüentava de volúpia. O sangue fervilhava, borbulhava, meu corpo estava tomado, anestesiado, a lascívia havia tomado conta.
Fala alguma coisa, eu pensava. O soprar mais afoito do vento vindo da janela fazia com que as longas melenas se enroscassem entorno do rosto e dos olhos. Cheguei bem próximo para que ela pudesse escutar e disse:
- O cabelo é bonito, mas incomoda né?
- É - respondeu ela com um imenso sorriso.
Como fui falar tal asneira? Fiquei com um "é" sem continuidade. Eu devia saber que perguntas de sim e não, ou similares, jamais podem ser feitas. E agora o que fazer? O que falar? Minha confiança se esvaiu num "é". Até minha anatomia se assossegou.
Fez o sinal. E lá foi ela, minha primeira cantada numa desconhecida. Sem sucesso. Saltou, fiquei lhe acompanhando com os olhos perdidos. De repente, ela olhou e fez um aceno carinhoso. Enrubesci. Depois daquele dia peguei a sopa todas as vezes no mesmo horário, queria vê-la novamente. Nunca mais a vi. Ficou uma paixão platônica por uma imagem que jamais enxerguei de novo, mas que a guardei para sempre.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Onze estrelas

Song of the Dog - 1877 - Edgar Degas
todos os dias temos ou tivemos vinte anos
cheios de súbitas certezas e desenganos
derramando plácidos romances descabidos
colhendo verdes esperanças para amadurecer
cada pôr do sol e o anoitecer de céu faceiro

todos os dias temos ou tivemos vinte anos
regando flores e breves analogias de fé
flocos de rebeldias carregadas de sabor
para nos aquecer um tanto imprudentemente
pela chama de um sonhado e finado amor

depois de vinte, mais um ano que se encerra
e apenas recomeça-se, o limiar de nossas vidas
nossas doces madrugadas por vitrais enluarados
novos beijos replicantes, dissidentes do temor

onze estrelas repentinas espetadas no céu do Brasil
são delicados cristais da juventude que nunca seca
mesmo quando eram outros sonhos
mesmo quando eram outros eram vinte anos

Paulo Roberto Andel, dezembro de 2000

quinta-feira, 29 de março de 2007

Pequeno manual de sobrevivência

Laokoon - 1610 - El Greco
Eu moro num canto do céu
No brilho fugaz duma estrelinha
Cuja luz é emprestada do passado
Algum desatento
Pode tomar-me como morto,
Vencido ou datado
Porque o brilho é antigo
De muito, muito tempo atrás
Eu não sou mais hoje, o agora,
Meu futuro é precisa incerteza
Entretanto, ainda não morri
O pequeno brilho, por vezes
Toma guarda na quina da memória
Daqueles que bem me quiseram
Creio que não sejam tantos assim,
Mas dedico a eles o valor de milhões
Multidões, batalhões de choque
Eles são meus guias, orixás
Minhas contas de um velho terço,
Onde cada uma é reza de meu viver


Paulo Roberto Andel, 21/03/2007

Memórias de Ipanema

Houses Along a Road - 1881 - Paul Cézanne
Todos, em algum momento, descobrem Ipanema como um cenário mágico da Guanabara. Alguns mais cedo, outros mais tarde.

Eu sorvi o bairro por partes. Minha terra sempre foi Copacabana, mas aprendi a admirar a vizinha, feito fosse a linda irmã da namorada, respeitosamente. Nós, Copacabanas, por vezes temos a impressão de que nosso bairro nos basta. Ledo engano.

Começou quando era criança, aluno do Pernalonga.Volta e meia tinham atividades pelo bairro. Uma vez nos levaram a um terreno gramado, sem casa, onde havia aparelhos rudimentares de ginástica, uns pesos. Muitos anos mais tarde, achei até que fosse uma antiga academia do lendário Sinhozinho, um dos pioneiros da educação física no Brasil e paradigma da força em Ipanema. Isso era mais ou menos 1974.

Houve um hiato, e Ipanema tornou-se meu ponto de visitas semanal, aos sábados pela manhã. Era dia do curso de inglês, as aulas eram chatas. A rotina habitual rezaria descer Siqueira Campos até Avenida Copacabana, e virar à esquerda, no sentido do trânsito. Muitas vezes fiz oposição: ir na contramão dos carros significava mais uma aula fraturada. Não me arrependo. Era um ritual: percurso até Francisco Sá, subida e, num certo momento, sentir o cheiro, a delicadeza, o desconcertar de Ipanema. Era Visconde de Pirajá, era o Gordon, a General Osório, até chegar perto do Chaplin, nas imediações da Farme, outra Farme, outros tempos. Havia sempre meus amigos de infância por perto: André Ricardo, Pedro Brito, o saudoso Flavinho.Oitenta e três, oitenta e quatro, por aí. De tempos em tempos, era comum encontrar um amigo, Marco, no Leblon – e eu fazia questão de vir a pé, degustando o caminho, namorando Ipanema. Isso até os noventa.

Novo hiato. Ipanema virou casa de amor para mim, noventa e quatro. Apaixonei-me perdidamente por uma moça da Barão da Torre, Tatiana. Nada deu certo. Foram seis meses de beleza, poesia, paixão e fé. Eu cruzava as ruas do bairro, eu vagava de vez pelo Arpoador, tudo trazia-me um aroma de la dolce vita. Morreu amor, Ipanema ficou.

Virou o século, voltei para Ipanema. Aos pés de onde meu sentimento brotou, Gomes Carneiro. Virei comerciante, também não deu certo, dois anos sem um tostão de lucro material. Mas e as ruas? A beleza das mulheres? A simpatia das pessoas? O ir e vir com certo balanço a caminho do mar, que o poeta imortalizou? Mais uma vez, meus sábados eram sagrados no almoço, a mesma Pirajá, a mesma praça, tudo. Foi o mais recente capítulo. Passaram três anos.

Estou no hiato novamente? Sim.

Na verdade, é mero pretexto para uma volta a Ipanema, que há de acontecer em algum momento. Nunca morei na terra ipanemense, mas é como se eu dela fizesse parte desde o nada – ou mesmo antes dele, se tivesse que parafrasear um craque como Nelson Rodrigues.

Meus hiatos justificam-se: são necessários para que, cada vez mais, meu respeito, carinho e admiração por Ipanema fiquem reforçados, crescidos, permanentes, com os mesmos olhos infantis que eu a via desde os tempos do Pernalonga.

Paulo Roberto Andel, 23/03/2007

Lá no Cícero

Woman on a Terrace - 1907 - Matisse
As aulas são diversões, um acontecimento preliminar ao recreio – a maior das alegrias – o encontro com os colegas, com as garotas.
De soslaio, acanhadas elas vêm e vão. São mais espertas.
Tudo é diversão, preocupação só com provas e mesmo assim nem tanto. Como é maravilhosa essa convivência.
As meninas ainda são garotas. A saia pregueada dá o “charme”, os rostos cheios de sorrisos e olhares acanhados completam a primeira impressão. Crianças, gurias, futuras mulheres.
Ingenuidade, cabelos soltos pululam ao som da Atlântica. Em algumas é possível ver o mar, calmo, zen, mas às vezes bravio. Todos os meninos querem saber o que se passava dentro daquelas cabecinhas que nada falam. Cochicham por entre os corredores, risinhos. Romances só com os mais velhos, conosco, amizades. Como isso nos chateia! Desejamo-las para nós. Mas a malícia ainda está longe, somos só meninos.
Elas olham para os homens. Maldita natureza que nos dá o desejo e a convivência e não nos dá as armas.
Lindas, pensam em romance, em beijos, em carinhos e no cavalheiro que as vêm buscar. Suas curvas ainda se torneiam por um corpo virginal. As brincadeiras são infantis, maldades não encontram eco. A timidez, presente nos guris, não os deixa ir adiante. Quanto tempo perdido!
A aula de educação física é o melhor dos momentos, é a hora que as veremos de shortinhos. Pernas lindas, cheias de penugens que as podemos desejar sem culpa.
Os idos de 1980 se foram, mas as lembranças teimam em nos trazer as satisfações pueris de outrora. Caros colegas como foi maravilhoso tê-los nesses anos de intensa felicidade clandestina.

Publicado no site Comunique-se em: 07.05.2007